Páscoa, Natal, Dia das Mães e tantas outras datas comemorativas! Isso é bom, quando se pensa que os feriados ajudam a reunir famílias que se amam. Ruim quando a discórdia entre seus membros reina por mágoas que vêm à tona. Bom quando as pessoas podem agradar umas às outras com presentes e guloseimas que demonstram afeto e bem querer. Ruim quando não podem mostrar seus apreços através de coisas que o dinheiro pode comprar, ou quando aparecem em forma de obrigação.
Ser feliz momentaneamente, rapidamente, a qualquer custo, viver de ilusões, quebrar a rotina, esquecer o lado tosco do cotidiano. Essa é a regra que se impõe, e ela é mesquinha.
Um prato de comida para dividir com um amigo, com um irmão, com alguém muito especial. Deixar o dia correr em conversas amenas, molhando vez em quando as palavras com água ou café. Rir da vida com ou sem sentido. Deixar o relógio correr sozinho. Ignorar a vida, pois não é que ela faz o mesmo com muita gente?
Um orfanato, um asilo, um andarilho. Depois que as pessoas de bom coração ou temerosas em relação ao desconhecido cumprirem com suas boas ações, e a rotina voltar a reinar, cada qual estará voltado para os seus problemas, seus desassossegos, seus trabalhos, suas famílias. A criança, o velho e o andarilho agora se transformam em filmes de ficções, às vezes com direito a reprise com a data de sempre.
O prato de comida, não! Este estará sempre à mão. Ele não depende de datas especiais, não carece implorar por boa vontade, não se envergonha de se apresentar dividido, não enjoa se é o mesmo do mesmo, e sacia vontades almejadas.
Iludidos uns com os outros, caminham os homens em busca de algo que ao menos sabem se a forma que lhes impressiona é a almejada, mas em suas tinhosidades rumam aos trancos e barrancos tateando pelos cantos escuros da vida. Esquecem, os insanos, que a comida contida no prato espontâneo e corriqueiro, é regalo que sacia a fome do espírito e da carne, apenas se ele for dividido com o mais puro amor encontrado.
Nicete Campos
22/4/2014