Meu tempo se esgotou. Não tenho mais tempo para ter paciência com os que "NÃO TEM TEMPO". Em tempo algum o sistema capitalista tem mostrado sua cara deslavada e despudorada tão acintosamente como vem fazendo nessas últimas décadas.
A coisa chegou a tal ponto que, se considerarmos as vinte e quatro horas do dia, nos trezentos e sessenta e cinco dias do ano, poderemos notar na maioria dos casos que o uso da frase "não tenho tempo" foram ditas tantas vezes, que teria dado tempo para àquele tempo pedido por outrem.
Tudo é uma questão de planejamento, e de entender que a vida não é feita só de trabalho escravo, ou de ociosidade em relação às concernentes ao amor e desprendimento.
Considerar-se insubstituível ou ser escravo do capital se abarrotando de horas extras, da necessidade incontrolável de viver sob os holofotes, do viver do trabalho como único escape para os seus males espirituais, com certeza trará prejuízos incalculáveis. Infelizmente, quem assim sobrevive não consegue enxergar o grande mal causado a si mesmo e aos que estão à sua volta, e então resta saber o que acontecerá quando estes cérebros "ocupados em demasia" tiverem seu apagão intelectual.
Até o lazer que antes era considerado válvula de escape para uma vida saudável, se tornou uma obrigação. O tempo é pouco e as brincadeiras das crianças devem ser optativas e rápidas, não lhes sobrando tempo para observação, apreensão e criação.
Mas, elas têm uma forcinha da tecnologia considerada (por ora) inofensiva e até mágica para substituírem o lazer saudável que o tempo lhes roubou. Para os adultos o lazer tem pouco tempo, e para os pais, o lazer se vê obrigado a sair de cena para dar espaço às mentes ocupadas com as preocupações relativas aos filhos.
Boas conversas e risadas são constantemente incomodadas pelo tempo subdivido de afazeres cotidianos. Sem lazer adequado, a neurose predomina em todos os ambientes, comprometendo inclusive de modo doentio o trabalho e a família.
Uma enormidade de problemas se desencadeia levando o indivíduo às doenças mais variadas possíveis. Mesmo a laboroterapia mais cedo ou mais tarde chega para cobrar com juros o tempo sem tempo.
Seria realmente o uso da fala "falta de tempo" um engodo, uma desculpa, ou uma realidade dos que não sabem fazer uso dele? Há uma frase popular: "o tempo é você quem faz". O que há de errado com ela?
Nicete Campos
02/12/2013