Relacionamentos em geral são difíceis por conta do ser uno, e, portanto, diferentes uns dos outros, que somos.
Mas aqui quero falar da difícil arte do relacionamento entre dois seres que vivem sob o mesmo teto.
No início dessa junção tudo parece maravilhoso (o tempo varia para cada casal). Como num passe de mágica, de repente, ambos começam a se questionar se essa união tem seus dias contados, ou não. Se sim, na grande maioria das vezes optam pela separação, ou acordam que por questões financeiras ficam juntos, com separação de corpos. Cada qual cuida de sua vida obedecendo algumas regras impostas para que se possa conviver razoavelmente bem. Se dessa união restou amizade e respeito, as chances são razoáveis quanto ao tempo de permanência dessa situação, do contrário, a tendência é a de que a insustentabilidade dessa relação termine em algo muito doloroso e até trágico.
Existem também os casos dos persistentes e/ou acomodados que nada questionam e fingem não perceber que relacionamentos precários, tendem a amargar as vidas mal vividas. As desculpas aqui variam de acordo com as necessidades, mas elas vem veladas, sendo confundidas com alguns sentimentos contraditórios que por vezes são denominados de amor, ódio, vingança, teimosia, necessidade. É comum ouvir frases do tipo: “não nos entendemos, mas não conseguimos ficar longe um do outro”. Essa relação “amor/ódio” que o casal nutre se apegando cada vez mais é doentia, pois, como já dito, protela um fim drástico antecedido pelo sofrimento consentido. Nesses casos percebe-se a fragilidade dos envolvidos. Cada qual não consegue resolver seus traumas, seus problemas psico/sócio/fisiológicos, e fica na pendência de um “milagre” para que suas vidas sejam resolvidas da maneira que Deus quiser.
Oras! Milagres não existem, mas atitudes sim!
As atitudes nesses casos, a princípio, são dolorosas e difíceis de serem tomadas, pois requerem uma grande dose de amor próprio e desapego. Partindo do princípio de que essa relação durou mais do que deveria, fica praticamente impossível livrar-se dela sem que traumas e dissabores aconteçam. De qualquer modo, quando se consegue racionalizar, a equação se apresenta, bastando apenas colocá-la em prática. Necessário se faz adotar uma postura de concentração e silêncio para que possamos ouvir nossos próprios questionamentos. Queremos continuar nessa saga extenuante e perigosa, ou nosso desejo de felicidade independe do outro? Essas duas opções antagônicas devem prevalecer. Não se deve abrir espaço para o meio termo para não se cair na armadilha das hipóteses absurdas. Incertezas nesse momento são inimigos a serem evitados.
Muito se fala em recomeços, mas cada relação é única. Algumas são resolvidas sem maiores problemas, e outras necessitam de uma dose bem grande de lucidez. O que não vale, é deixar espaço para a inércia, o comodismo ou ainda usar de subterfúgios para ocultar desejos como fontes de desculpas para lá de esfarrapadas.
A escolha de decisões a serem tomadas deve estar embasada num estilo de vida que se almeja viver. O tempo urge e “se vive apenas uma vez”. Primeiramente há que se pensar em si, estar inteiro para somar com outro inteiro. Metades podem se unir, se complementar, mas sempre será perceptível a ranhura que une as duas metades. Essa linha tênue e frágil pode se quebrar a qualquer momento, portanto, o melhor mesmo é tentar ser o melhor possível para depois procurar pelo seu melhor par. É sabido que a coisa mais difícil é ser um Ser por inteiro, pois a grande maioria trava lutas diárias com seus fantasmas imaginários, e eles são atemporais. Então, o inteiro aqui pretendido, é o da aproximação. Ser cônscio de limites e fragilidades, já ajuda a equilibrar um bom tanto o estado emocional do Ser.
Por fim, quando tivermos a coragem de resolver os nossos problemas, ao invés de acreditar que outros possam resolver por nós e partirmos em busca de um relacionamento saudável, alguns predicados devem ser incorporados nessa relação: companheirismo, carinho, atenção, educação, paciência, solidariedade, cumplicidade, respeito, bom humor e amor racional (os de conto de fadas é uma armadilha sem precedentes).
Essas são apenas algumas dicas para se tentar um relacionamento sem maiores problemas, focadas apenas na educação, pois outros fatores de cunho biológico, fisiológico e sensorial devem ser considerados com muita atenção, e, portanto, merecem capítulos técnicos especiais.
Difícil? E quem foi que disse que o bom relacionamento é objeto farto no mercado de culturas tão variadas?
Nicete Campos
13/5/2013