A infância vivida na zona rural o levara às ações do presente, ou agora com a escassez dos recursos naturais, a consciência ecológica despertou-o para elas? Provavelmente a junção dessas hipóteses, aliada ao amor universal, fizeram com que Antonio Ricardo Gracioli, ou simplesmente Quassim (alcunhado por parentes e amigos), tomasse certas atitudes em relação ao meio em que vive.
Quassim, com seus 54 anos de vida, trabalha como mecânico automotivo há 33 anos na cidade de Orlândia/SP, e apesar de ter trocado a roça pela cidade no intuito de oferecer uma melhor subsistência para sua família, mantém estreita relação com a natureza que tanto ama e admira.
Sentindo-se nostálgico por não poder usufruir dos benefícios advindos da convivência diária com a mãe natureza, resolveu empenhar-se na busca de um local onde pudesse senti-la mais próxima. Angustiado, constatou as barbáries praticadas contra a flora e a fauna.
Há uns dez anos atrás, Quassim que adora pedalar sua bicicleta, resolveu unir o útil ao agradável, praticando este esporte na área rural próxima à sua cidade. Para seu espanto, notou que também ali, os tons de verde que ele buscava, tinha uma só tonalidade, pois provinha de um só tipo de plantação: o da cana de açúcar. A ausência quase que total de árvores ornamentais e frutíferas deixava um quê de desolação e dor. O silêncio na “área rural” indicava a escassez dos pássaros e dos animais. Sob o sol escaldante dificilmente era possível vislumbrar uma sombra onde pudesse descansar...
Quadro desolador, onde a gramínea reinava absoluta querendo lhe dizer que também ali, o capital imperava e destruía sonhos de beleza, saúde e vida!
Chorar e espernear de nada lhe adiantava. O que ele poderia fazer para minimizar sua própria dor? E o que dizer dos pássaros e animais que dependiam do homem para suas sobrevivências? O ser humano não se conscientiza que, estando o ecossistema desequilibrado sua vida é mal vivida? Que quanto mais se destrói a natureza, o risco de extinção da sua espécie aumenta?
Quassim sabia que “chorar leite derramado” de nada adiantava, a não ser que algum gato pudesse dele fazer proveito. Assim sendo, enquanto esticava suas pedaladas entre Orlândia e São Joaquim da Barra, pensava numa maneira eficaz de minimizar os efeitos nocivos causados por essa monocultura. Não tardou e a idéia surgiu: plantaria nos seus dias de folga, outros tipos de vegetais pelo caminho que iria percorrer.
Como criança ansiosa em véspera de aniversário, assim Quassim aguardava seus finais de semana e feriados chegarem. Agora sua bicicleta, além de levá-lo para praticar seu hobby preferido pelas ruas de terra, levava também esperança em forma de sementes e mudas.
Acerola, amora, jabuticaba, mamão, limão, abóbora, pepino, melancia e outros, começaram a frutificar. A multiplicação não tardou, e acabou sensibilizando pessoas que, influenciados por ele, começaram a ajudar na revitalização da mãe terra sofrida e já quase sem vida, no trecho compreendido entre as duas cidades.
Uns o acompanham no plantio, outros fazem mudas e levam até sua casa. Bom seria se mais “Quassins” proliferassem ideais de coletividade, pois o comodismo, a preguiça e o egoísmo depõem contra seus próprios donos.
Uma saudade, uma reflexão, um gesto de amor, e a transformação!
Nota: Fiz este texto para Rodolfo Gracioli, filho e admirador do senhor “Quassim”. Apesar de não conhecê-los (os dados me foram passados via net), fiquei bastante sensibilizada com a atitude dessa pessoa, que apesar dos seus trabalhos diários (e talvez por isso mesmo), arruma tempo para fazer algo bom e relevante para todos nós.
Nicete Campos
9/4/2009