Tarde escura de chuva fina. No ar o som de um piano. É uma improvisação sobre um tema de Puccini, tocada por mãos divinas de Artur Cimirro, jovem pianista que encanta pela sensibilidade transmitida.
A chuva já não cai brandamente, mas torrencialmente vai lavando e levando a sujeira do ar e da terra. Um odor exala, e é bom. É cheiro de terra molhada, do cio entre flora, fauna e minerais.
Volto a ouvir Cimirro e deixo a imaginação fluir. A flora me acompanha numa viagem sem dor e devastação. Dançamos com a melodia, rimos por nos sabermos num mundo de paz.
Ah! Doce enlevo...
Paz, harmonia, certeza do que seria bom se aqui existisse o que precisamos ir buscar além imaginação.
Por que é tão complicado viver as sensações, ao invés de apenas sentirmos? O que o homem procura para que viva nesse desassossego? Originalmente está em seu DNA a sobrevivência somente através do sofrimento?
Cientistas desvendam (tentam), explicar a diversidade de ações e reações humanas. Teses concluídas se mostram inócuas quando aplicadas na prática.
Agora, além de Cimirro, meu mestre Haspásio tenta me socorrer. Diferente do primeiro que me leva além, para longe do sofrimento, o segundo insiste na relevância da reflexão, da leitura ordenada e ética de alguns autores, do entendimento dos fatos, do saber diferenciado, e até mesmo da simplicidade existente no complexo.
Complexo, simples, entendimento ou não das mazelas humanas, agora quero mesmo é voar. Sonho de pássaro, sonho de Ícaro, mas quero mesmo é divagar!
Fico no descanso por um tempo. Sei que tudo o que é bom, é breve. Apenas precisamos de pausas, precisamos de tempo para resgatar valores bons, cheios de energias positivas, e voltar. Voltar para a terra, somar com os viajantes, procurar os pares e unir forças. Caminhar em direções iguais, fazer arrastão, sem deixar opção para os acomodados.
Utopia provavelmente, mas agora o campo em que estou, é o das boas divagações. Por ora, preciso ficar lá.
Voce está ouvindo
Artur Cimirro
www.arturcimirro.com.br
Nicete Campos
1/12/2008