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Política e Sociedade
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O que é a sociedade senão o reflexo da política? Ou seria a política o espelho da sociedade?

As duas coisas? Mas quem começou primeiro? Ninguém sabe, ninguém viu. Novamente pipocam pipas no ar. Em todas as partes do Brasil. Quem poderá dizer que foi o primeiro a começar a temporada?

A simbiose existente entre as duas classes é impressionante. Não fazem questão alguma de tentarem desvendar o mistério do início, e nem os motivos que os levam a perpetuarem essa relação incestuosa.

Puxo pela memória, e me vejo numa sala de aula. Estava eu na segunda série, hoje nomeada de sexta série. A aula era de história geral. Geral? Total? Do mundo inteirinho? Pobre cérebro de criança que só queria aprender pouco e brincar muito.

Saio do meu devaneio, afinal, decorar datas não era comigo. Números? Isso eu já era obrigada a ver em matemática, e eu detestava essa matéria. Não era só eu não! Era quase a totalidade dos alunos que não gostava. Menina? Piorou! O lado do cérebro mais desenvolvido para números, era prerrogativa de meninos, e não de meninas. Assim pensavam, e assim eu me safava com as notas em vermelho dessa tal de matemática.

Mas agora era aula de história, e o tanto de datas citadas, me desconectavam, e eu ia correr pelos campos afora, pegar carrapato, me rasgar em arames farpados, enfrentar bois no pasto para subtrair jabuticabas alheias que apodreciam no chão, de tanto que a árvore carregava.

“...e ele saiu de sua aldeia, curioso para descobrir o que existia além dela.”

Deixei o pasto e as jabuticabas de lado. A curiosidade bateu, e o sinal para o intervalo também.

Agora que o professor de história havia resolvido exercer sua função de contador de histórias, o sinal de término de aula fora dado.

Levanto a mão para perguntar, mas o olhar dele me fulminou e me fez tremer. Será que professor de história lê pensamentos? Juntamente com as notas vermelhinhas de matemática, as de história se destacavam, pois eram ainda inferiores à primeira. Mas para a minha família, nota vermelha era tudo igual, e serviam para designar pessoas burras, malcriadas e preguiçosas. Assim os castigos e as surras se sucediam.

Mas, e o homem curioso que saiu de sua aldeia? Achou algo ou alguém?

“Claro que sim! Encontrou gente que fazia coisas diferentes daquelas feitas em sua aldeia. Ele que não era bobo, e nem nada, traçou um plano: iria barganhar coisas do povo de sua aldeia com as coisas que a outra aldeia fazia, entendeu?”

Nossa! Essa minha amiga era muito inteligente, e deveria ser ela a nos dar aulas de história, e não aquele mal-amado. Mas ainda era pouco. Eu precisava saber se ele havia conseguido seu intento.

“Conseguiu sim, e não só isso, inventou a função de leva-e-traz. Pode isso? O cara não fazia nada, e ganhava tudo. Ele batia era muita perna, isso sim! E com isso, começou o troca-troca entre as várias aldeias que ele ia descobrindo, mas aí, quando todo mundo já conseguira todos os bens, e viviam felizes com as barganhas, com as novas amizades feitas, conviviam com diferentes tipos de linguagem, de cultura e tudo o mais, a graça do conhecimento e da fartura deixou de existir. Nada mais havia para ser desvendado, cambiado. O que o espertinho fez? Tratou de inventar o dinheiro. Assim, uma nova modalidade de trabalho foi introduzida: a do especulador. No começo chiaram, pois não é que o danado já não se contentava com pouco, e sempre queria mais? Mas fazer o quê, né? A sementinha novidadeira já havia sido plantada, e chorasse mais, quem menos possuísse. E num piscar de olhos a desigualdade de bens de consumo começou a separar pessoas, e mais tarde, os povos.Veja que coisa bem feita, pois não é que até hoje vivemos no e do sistema que o danadinho do homem inventou? Foi dada a largada. Os mais bobos se tornaram reféns dos espertos, e estes inventaram a política para não terem que conviver de perto com a gentalha, e dificultar o acesso dela aos seus vultuosos ganhos. Mais tarde alguns rebeldes chegaram a tentar invadir o espaço dos agora poderosos, mas tudo em vão, pois eles já haviam providenciado a garantia de seus sossegos construindo enormes muralhas em volta de seus castelos, muito bem guardados por pessoas adeptas do bom ditado: “se não consegue dominar o inimigo, alie-se à ele.”Foi aí que tudo se misturou e desandou.”

Aula magna! Eureka! Eu bem desconfiava que algum engraçadinho nos havia colocado nessa enroscada. Que o cara foi um gênio, não se discute, mas agora sei quem inventou o diacho do dinheiro que põe todo mundo doido. Lastimei com minha amiga e agora doutora em história, a infelicidade de se ter por perto um cara que não gosta de trabalhar, e só querer viver do suor alheio. Ela riu das minhas tolas considerações, pois afirmou que cansa muito mais trabalhar com o cérebro do que com o corpo. Também disse: “quem mandou o povo bobear? Sabe o que é isso, minha amiga? Ganância! O povo quanto mais tem, mais quer, e assim, a função do intermediário passou a ser crucial para saciar desejos. Virou profissão, e das mais rentosas! Quer um exemplo do legado que o homenzinho deixou? O presidente daqui faz suas incursões por terras estrangeiras para barganhar, e os estrangeiros vêm pra cá com a mesma finalidade. Agora é ver quem pode mais, para chorar menos. Mas tenho em mente que o povo dessa sociedade, nem se importa mais se seus bens são dilapidados, levando-os à fome e à morte. Afinal, os espertinhos conseguiram introduzir uma nova modalidade infalível de controle sobre as massas: a alienação. Mas não há trambiques nisso, não. O próprio povo entrega sua vida de papel passado, se dizendo consciente do que está fazendo. Tudo é questão de escolha. Quem assim não quiser, basta não assinar nada, e reescrever sua história. Nada vai mudar, enquanto a simbiose maligna entre sociedade e política existir. A única saída é todos direcionarem suas vidas para os mesmos objetivos honestos. É como soltar pipas, não interessa quem foi o primeiro a fazê-lo, o importante é copiar essa brincadeira exemplar de liberdade e coletividade. Essas maravilhas podem ser conseguidas através da tão falada EDUCAÇÃO. E por falar, nisso, que tal começar a estudar, e livrar-se dos vermelhinhos que enfeiam seu boletim? Te ajudo nisso, está bem?”.

Recordo-me apenas dessa aula de história que tive no velho ginásio, e assim mesmo, foi com uma colega de idade igual à minha, mas de cérebro avantajado, pois sempre soube dos princípios rudimentares e óbvios da verdadeira vida que deve ser vivida em sociedade.

Atualmente, a impressão que se tem, é que a profissão de intermediário cravou seus tentáculos em cada um de nós. Não dá mais para diferenciar políticos e povo. A grande maioria de nós é refém da ganância e do egoísmo. A insatisfação que norteia nossas vidas faz com que vivamos às dos outros, não importando de qual lado estejamos.

Somos fogo que alimenta egos. Água que dilui venenos. Camaleões do TER e do SER. Somos algozes da vida e da morte. Inteiros que se dividem e se mesclam em labirintos da inconsistência do saber.

O que importa mesmo, não é mais tentar encontrar aquele que tudo começou, mas sim, procurar vislumbrar um recomeço, onde a unicidade e a integridade de cada um possam ser encontradas. A política faz parte da genética humana, mas o mercantilismo é sua distração. Governantes são comerciantes de vidas. Precisamos apenas decidir como queremos que nos negociem.

Proponho dois exercícios básicos: O primeiro é a REFLEXÃO, e o segundo, é a AÇÃO com seus aplicativos éticos. Os reflexos advindos dessas posturas, podem não ser glamourosos, mas certamente nos garantirá uma posição mais digna e justa.

Nicete Campos
23/5/2008


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