Este matagal sob este montão de árvores, aparenta sujeira, lugar largado, onde os bichos se escondem. Deus me livre de entrar aí. Pior mesmo é que tenho que arrancar as cascas de algumas árvores e arbustos para fazer remédios. Ouvi dizer que cura um montão de doenças tais como: esporão, unheiro, bicho na barriga, cravos e espinhas, celulite, cabelos opacos e quebradiços, pele sarnenta, doenças venéreas, impotência, mal de Parkinson, olho gordo, cegueira, glaucoma, rugas, nervosismo, memória fraca, osso quebrado, sangue ruim nas veias, fígado, pâncreas, rins, baço, estômago, esôfago, rinite, estomatite, enfisema, tosse, catarro no peito. Tem também as que deixam os dentes bonitos, hálito perfumado, cura pneumonia, tuberculose, dengue, câncer, aids, e até recupera os irrecuperáveis.
Também serve para rituais de macumba, fazer mal para o outro e fechar o corpo dos que não querem servir de alvo das maledicências alheias.
Para quê deixar esse mato aí? Ele também serve para curar todas essas e outras doenças, mas aí não é lugar dele. No terreno baldio e nas beiras das estradas têm de montão, na casa da dona Maria também. Qual o problema se o carro, o caminhão, o ônibus, a moto e o trator jogam sobre o mato aquela fumaça chamada de dióxido de carbono? E qual o problema se o gato, o cachorro, a galinha e a pomba defecam e urinam sobre ele? Ferve-se tudo em qualquer latinha, ou coma “in natura” mesmo. Estas baboseiras inventadas pela alta tecnologia é só para ganhar dinheiro.
O mato é de Deus, e quem é Deus se não o próprio humano? Assim, use e abuse da terra, da flora, da fauna, dos minerais, dos micro-organismos. Tudo isto está aí para servir ao homem, expressão máxima do Todo Poderoso na terra.
Não tenha receio do homem da lei (Deus com insígnia), afinal, na constituição feita pelos deuses de falas difíceis e eficazes, diz que todos têm o direito de ir e vir. A constituição garante isto. Garante mais: arrancar com raiz a planta com suas sementes que não serão dispersadas, suas flores que não serão polinizadas, seus frutos em desenvolvimento que não alimentarão pássaros e animais...
Ah! Também o mato é bom para fazer uma macumba maneira. Deixar velas de cores maravilhosas como as vermelhas e as pretas queimando o mato, empobrecendo a terra, matando tudo, ajudando no desequilíbrio do ecossistema.
Mas por que mesmo estão “limpando” o bosque, retirando o mato feio?
Para dar passagem ao homem, que quer caminhar em sua pista da saúde, sem ter que correr o risco de se deparar com um bichinho atravessando o seu caminho.
Condomínios de luxo e prefeituras preocupam-se com o ser humano, então, onde houver uma pequena reserva de mata nativa, limpe-a!
CORTA O MATO FEIO, SEU MOÇO!
A ignorância e o egoísmo ditam crendices, insensatez e fanatismo.
O “mato” é o sub-bosque, uma vegetação formada por herbáceas e arbustivas que mantém o micro-clima, que por sua vez auxilia a manter a vida da mata (grandes árvores).
Na mata original, quando o homem não mexe, o ecossistema fica equilibrado (flora, fauna e micro-organismos), pois o solo se mantém fresco, com a temperatura, umidade e ventilação na justa medida.
Apenas por isto, e nada mais do que isto, é que se implora e suplica:
NÃO CORTA O MATO, SEU MOÇO!
Nota: espera-se que o leitor possa perceber o cinismo contido no texto, afinal, o que falta mesmo no Brasil, é a bendita educação.
Nicete Campos
15/4/2008