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Camelo da Flora
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Faço uma analogia entre o animal camelo (camelus) e o eucalipto (eucalyptus), para exemplificar o absurdo de água consumida por ambos, com a diferença de que o camelo bebe de uma só vez uns cem litros dela em poucos minutos, armazenando-a em suas corcovas, e ficando por volta de três meses sem sede, enquanto o eucalipto é insaciável e exagerado. Bebe sem parar, faz a fotossíntese devolvendo bem menos do que retirou, à natureza.

O eucalipto está sendo considerado pelos “experts” de espécies exóticas e invasoras, como uma das piores da nossa flora (Alien Weeds and Invasive Plants, Lesley Henderson, 2001).

O Eucalyptus inclui mais de setecentas espécies, quase todas originárias da Austrália. Adaptam-se facilmente, à maioria das condições climáticas.

É sabido que a formação dessas florestas vem crescendo de maneira indiscriminada, pois tem importância econômica relevante. Os eucaliptos crescem rapidamente, e são utilizados para produzirem: pasta de celulose, fabrico de papel, carvão vegetal e madeira.

Obviamente esse tipo de plantação traz suas vantagens econômicas, competindo no mercado, e trazendo divisas aos países que dele fazem uso, mas em compensação, o estrago que faz na natureza é incalculável.

Além de serem conhecidas popularmente como florestas do silêncio (o correto seria dizer plantações do silêncio), essas monoculturas florestais expulsam as espécies vegetais nativas, afastando a vida selvagem. Na “plantação do silêncio” a ausência de qualquer tipo de fauna, que se dispersa em razão da toxicidade de suas folhagens, e por conta do solo que fica ressequido, é assustador.

Esse “camelo da flora” seca rios, encharcando-se de água, enquanto outras árvores vizinhas morrem de sede. E assim, num crescente efeito dominó, acaba por atingir ao homem.

A raiz pivotante, que é a responsável pela sustentação da árvore, e normalmente não ultrapassa a faixa dos três metros de profundidade, mas se necessário, ela avança um pouco mais no solo, para continuar a se encharcar de água.

Não há interesse, por parte do governo, em coibir os avanços desses plantios, pelos motivos explicitados acima. Na África do Sul, as pessoas morrem de sede, e a ordem agora é sair à caça dos eucaliptos e arrancá-los ainda pequenos. Toda a comunidade (incluindo as crianças), auxilia os pesquisadores na árdua luta de exterminar (não é controlar), os “camelos da flora”.

Como bem diz o velho e sábio ditado: “quando a água bate no bumbum, a pessoa aprende a nadar”.

Mas aqui deixo um alerta “quando a escassez de água começa a dizimar o homem, aprende-se rapidinho a entender e a respeitar o ecossistema”.

Nicete Campos
9/3/2008


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