Sair estrada afora, caminhar pelas alamedas da cidade, deter o olhar num terreno baldio, triar e aguçar audição para ouvir o canto dos pássaros, tatear o tronco de uma árvore acariciando-a com amor, tocar de leve as pétalas de uma flor do campo.
Olhar a natureza percebendo-a em seus sutis detalhes, admirar a linda joaninha a trabalhar na limpeza de um jardim alimentando-se de pulgões, deparar-se com uma minhoca quase afogada pelo encharque da água, zigue-zaguear desviando-se de uma polinizadora maravilhosa como a mamangava, e à noite abaixar a cabeça assustada dos vôos rasantes de um morcego brincalhão.
Entrar em uma horta só para reparar na alface mãe, que grandona se destaca das filhas. Perceber as florzinhas brancas e delicadas de uma jabuticabeira, para logo depois acompanhar seus frutinhos verdes crescendo até se tornarem adultos pretinhos (e se deliciar com eles).
Andando, sempre andando e olhando, reparando, fotografando com a mente, admirando, rindo como bobo sob um céu azul, ou uma chuva fina a lavar a alma. Sentir o calor do sol, olhar as estrelas demoradamente, jogar um beijo para a lua, abrir os braços e o sorriso, sentir a plenitude e a beleza do aconchego do todo.
Andar descalço nos rios mansos admirando seu curso, reparar na mata ciliar que vive a bailar nas águas e no vento.
Terra, aves, flores, matas, bichos, frutos.
Céu, estrelas, sol, lua, pássaros.
Micro-organismos que não se vêem a olho nu, mas que estão lá desempenhando direitinho suas funções.
Cachorros, gatos, papagaios, macacos, cobras e lagartos.
Cavalos, bois, cabras, porcos e marrecos.
Um bicho, uma fruta, uma flor, uma árvore, uma rocha.
Uma mãe terra servindo de alicerce para tudo se equilibrar.
Uma água para a vida continuar.
Tudo perfeito, equilibrado, para o prazer e o bem viver de todos. E é só prestar atenção. Impossível não se apaixonar (primeiro passo para cuidar).
Nicete Campos
2/2/2008