Era uma vez, numa floresta sem cheiro e pegadas humanas, um bando de macacos sem rabos que vivia feliz e saudável. Comia bananas à vontade todos os dias. Bananas de várias espécies: nanica, maçã, prata, ouro, marmelo, terra.
Os macacos não brigavam entre si, pois além das propriedades nutricionais das bananas (vitaminas A e C, fibras e potássio), eram psicologicamente equilibrados. Será que este fato se deve ao triptofano que, quando ingerido aumenta os níveis de serotonina no organismo, podendo originar algumas alterações a nível psicológico, incluindo a redução de estados depressivos? “...comer duas bananas por dia, durante três dias aumenta o nível de serotonina no sangue em 16% (Xiao et al.(1998)”.
Isso não importa! Eles eram equilibrados, felizes e saudáveis, e isso sim fazia a diferença, pois começou a causar inveja em outras comunidades desses primatas antropóides ou símios que não podiam se refastelar tanto quanto eles dessas musas maravilhosas, por estarem em territórios onde a plantação de uma tal gramínea (cana) e também de florestas do silêncio (plantações de pinus e eucaliptos) comiam soltas. Aliás, pobres símios que viviam como ciganos, andando de um lado para o outro, na busca eterna do paraíso.
E não é que de tanto andarem por lugares inóspitos e sem galhos, de tanto sofrerem os percalços do horror do nada, finalmente chegaram na floresta dos macacos sem rabo?
No escondido das moitas amontoaram-se com o intuito de traçarem um plano de inserção naquele bando tão feliz e psicologicamente equilibrado.
Um problema sério e visível tinha que ser sanado. Fazer-se passar por qualquer um deles, não era problema já que aparentemente nada os distinguia, mas um deles teve boa lembrança: o que fazer com o pequeno apêndice em forma de rabo que os diferenciava?
Depois de muito confabularem, resolveram que depois dos seus rabos amputados, tomar conta daquele lugar paradisíaco, expulsando os psico-sócio-sexualmente equilibrados sem rabo, seria tão fácil quanto políticos roubarem através de impostos e super-faturamento de obras faraônicas.
Enfim, exemplos diversos para serem copiados de como falcatruar não faltavam para o bando faminto e invejoso. Assim, passaram da teoria para a prática. O processo foi dolorido, mas o paraíso das bananas seria deles, e isso era o que importava.
Na calada da noite, enquanto os satisfeitos e originalmente sem rabos descansavam nos braços uns dos outros, os decepados já sabiam até o que fariam com o excedente de bananas: exportariam!
Para tanto, buscaram primeiro algumas informações sobre a preciosidade. Ficaram sabendo que, dentre tantas outras coisas, a banana é composta de 75% de água e 25% de matéria seca, sendo uma fonte apreciável de vitaminas A, C, fibras e potássio. Também era ótima para queimaduras, se usada a parte interna da casca sobre o local. Foram além, investigaram alguns dados científicos, pois sem isso, talvez complicasse na hora de exportar.
Qual era o Reino?
Esse que estamos – respondeu um mais lerdinho
Fala sério! Temos que decorar um montão de nome esquisito. Vamos lá!
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Ordem: Zingiberales
Família: Musaceae
Gênero: Musa
Sabiam que deliciosas musas, apesar de serem cultivadas em 130 países (todas as regiões tropicais do planeta), eram originárias da Ásia. Então, ficariam ricos e famosos exportando para os EUA e para a União Européia.
Já intelectual e moralmente preparados treparam nas bananeiras com fome de leão, mas foram rapidamente descobertos apesar de suas aparências idênticas aos do originalmente sem rabos. Faltou-lhes no olhar e nos gestos, a delicadeza dos bons modos, da cooperação e do amor.
Mas, os originais sem rabo, acostumados que estavam com invasões daqueles que querem apenas se banhar no suor alheio (sim, pois viviam a multiplicar o que a natureza lhes havia concedido gratuitamente), sugeriram aos de rabos amputados o seguinte: poderiam levar um montão de sementes da musa. Plantariam em seus países de origem, e poderiam dominar o mundo, afinal, aquela pequena floresta tinha que dividir o bananal com mais uma porção de espécies da flora, que de nada serviriam para eles.
Assim convencidos, trataram de descascar e retirar das bananas suas minúsculas “sementinhas”. Bateram em retirada com uma porção delas nas mãos e milhões de planos arquitetados em suas cabeças de vento. Felizes, desapareceram nesse mundão de Deus.
Nem bem ficaram sós, um simiozinho bonitinho e curioso questionou ao mais velho do bando, se os novos concorrentes eram merecedores de tamanho desprendimento e complacência. Já começava a se revoltar (há dias se recusava a comer bananas como forma de protesto, coisa que caracteriza os saudáveis e ingênuos adolescentes), quando o adulto sábio explicou:
- Minha criança, as bananeiras originais produziam frutos com grandes sementes, mas aqui elas são triplóides, portanto produzem frutos sem sementes formados por partenogênese, isto é, sua reprodução é assexuada, e só se propaga a partir de brotos ou rebentos que nascem das socas da planta. As socas são obtidas a partir da remoção cuidadosa de uma parte do caule subterrâneo que contenha algum rebento e algumas raízes intactas, geralmente na base do pseudocaule. Um só rizoma pode dar origem à vários rebentos (filhotes, como chamamos aqui). Então, daqui nada levaram, a não ser o exemplo do pensar coletivo e cordial. A velha e conhecida ganância e o egoísmo que só servem para alimentar a discórdia de um grupo, se foram com eles, mas quem sabe, por um milagre de Deus, as “sementinhas” que levaram não os façam refletir, por pouco tempo que seja, no ato absurdo que é tentar viver como parasitas dos que só pensam no bem-estar de uma coletividade?
Era uma vez...
Nicete Campos
2/12/2007