O circular do Campus da USP-Ribeirão Preto pára em mais um ponto. Passageiros sobem e descem nele cumprindo suas rotinas de trabalho e estudo. Muitos são os que não fazem parte deste ambiente laboral e estudantil, pois ali procuram tratamento para suas doenças. São pessoas carentes que usam do trabalho de extensão à população, que esta magnífica universidade oferece.
Homens e mulheres, jovens, idosos e crianças, que têm em comum, doenças muitas vezes complicadas e doridas. São dependentes da ajuda científica e tecnológica, que só mesmo centros como estes podem oferecer.
Mas, longe de se ter um trabalho holístico, onde o cuidado com o TODO faz a diferença (próprio do sistema educacional ainda falho nos dias atuais), ainda, e assim mesmo, cada profissional faz o que pode para minimizar o sofrimento alheio.
Neste contexto, chamou especialmente a minha atenção, o “anjo-motorista” do ônibus da USP, que faz um trabalho social dos mais interessantes, extrapolando seus deveres para amar e guardar (como anjo), os pequeninos sofredores.
Além desses cuidados que oferece sem distinção para todos os usuários, ANTONIO HORACIO DE PAULA, o “anjo-motorista”, percebeu que poderia ir além do esperado. Resolveu extrapolar suas funções que lhe foram atribuídas. Sabia que a “normose” e o mesmismo rotineiro não lhe satisfaziam enquanto educador nato. E, com o amor incondicional, próprio de mentes sãs, começou a realizar um trabalho digno de ser alarmado e copiado.
Pequenos pedaços de fios de cobre encapados em três cores diferentes, mãos habilidosas, e pronto: eis um pequeno joguinho de entretenimento e desafio para a criançada. Com destreza retira e coloca as pequenas peças em seus lugares, sob olhares curiosos. Na seqüência, repassa o brinquedo aos pequeninos que se concentram no desafio de imitá-lo. São pequenos momentos, já que o percurso do ônibus em pouco tempo chega ao destino daquelas crianças sofridas. Dependendo da doença, longos tratamentos de saúde, e vários retornos devem ser feitos.
Agora, o choro, o medo da dor, o desespero da mãe que acompanha o sofrimento dos seus filhos, podem não só ter uma pequena trégua, como servir também de incentivo para as crianças quererem “passear” na USP. Elas têm o anjo-motorista Antonio que está a esperá-las com novos desafios.
Aos poucos ele introduz novas atividades correlatas. Informa o novo passageiro como melhor atravessar as ruas, o melhor e mais curto caminho para se chegar onde necessita, as melhores calçadas a serem pisadas, as sombras de belas árvores que alivia o calor, a cor do prédio e a distância a ser percorrida a pé. Dirige com cuidado na certeza de estar levando vidas preciosas. Com calma e paciência atende a todas as reivindicações pertinentes, e por fim, entrega a cada um, um pequeno folheto com os horários e locais por onde “seu” ônibus passará.
Tenha um bom dia, uma boa tarde. Sucesso na resolução dos seus problemas. Desça devagar, cuidado com a escada. Aguarde a saída do ônibus para depois atravessar. Quando terminar o que veio aqui fazer, olhe no folhetinho de horários para pegar o ônibus de volta. Vai com Deus...
ANTONIO HORACIO DE PAULA, funcionário público estadual é gente que sabe e gosta do que faz. Cidadão amoroso e inteligente, pois entende profundamente qual a diferença existente entre emprego e trabalho, egoísmo e altruísmo, insensibilidade e amor incondicional.
Ah! Se todos agissem como você...
Ficam aqui o meu respeito e agradecimento. Bom saber que, vez ou outra, esbarramos em pessoas onde a indiferença inexiste. Afinal, vivemos em tempos difíceis, onde o TER suplanta o SER. Onde o próprio umbigo é maior do que os dissabores da vida alheia.
Parabéns anjo-motorista. Que Deus te ilumine cada vez mais, e às tuas inventividades.
Nicete Campos
28/10/2007