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Olho Gordo: verdade ou mentira?
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Quem nunca ouviu uma pessoa de idade se referir a uma doença física ou psíquica como sendo algo decorrente da inveja?
Benzimentos, chás, ervas de defesa, corpo fechado, amuletos e tantas crendices mais serem usadas com fervor em prol do bem estar, da saúde e da prosperidade?
No ano de 1992, morávamos em Bologna, norte da Itália. Meu marido, um pesquisador de renome havia sido convidado para trabalhar num Centro Nacional de Pesquisa, uma espécie de CNPq do Brasil – Conselho Nacional de Pesquisa.
Minha família, composta de cinco pessoas, era considerada grande naquele país de contenção de espaço e grande angústia por conta de traumas sofridos advindos de grandes guerras. O pavor de ter que enfrentar a escassez de gêneros de primeiras necessidades, deixava o instinto de preservação da espécie em evidência nos mínimos atos dos seus habitantes. A consciência sobre o manejo de bens coletivos enraizara de tal maneira, que pouco precisavam ensinar aos seus mais tenros descendentes, restando-lhes tão somente a preocupação da manutenção dos hábitos já corriqueiros do bem viver em sociedade, e a preparação dos seus rebentos para competições acirradas no mercado de trabalho. O respeito beirando quase que ao fanatismo sobre os escassos recursos naturais era nato. Os habitantes fiscalizavam uns aos outros, e a vergonha de uma infração cometida contra o meio ambiente, mesmo sem querer, era motivo suficiente para fazer adoecer o relapso infrator.
Não sei se por força do hábito ou tradição a ser respeitada, apesar da educação milenar e cultura agregada àquele povo, me chamou também a atenção, o fato de, por vezes, me deparar com várias pessoas que, acreditando ser a inveja o maior mal existente no ser, tentavam evitar o tal de “olho gordo”, fazendo uso das afamadas defesas naturais.
Pude perceber também, que os amuletos usados por eles eram similares aos do Brasil, como por exemplo, certos tipos de plantas. A curiosidade fez com que eu perguntasse o motivo dessas escolhas. Teria sido o auxílio italiano na nossa colonização, fazendo-nos incorporar alguns de seus costumes? Não souberam responder, mas disseram que a prática de se prevenir contra os males das pessoas invejosas não era prerrogativa deles, mas também de vários outros países. “Se os vegetais, que são compostos de células vivas, fixam suas raízes em terra energética, necessitam de água e alimentação para viverem, repassam a todos os seres vivos seus incontáveis benefícios, mantendo sua função essencial no equilíbrio do ecossistema, porquê então, em conseqüência disso, não agiriam como proteção ao todo?” A simbiose entre vegetal e homem era inquestionável pela dependência e características existentes entre eles. A sensibilidade para captar energias, não era dada única e exclusivamente ao homem, apenas a percepção lhe era peculiar. Percebia, por exemplo, a inveja, a maldade e a vingança corroerem seus cérebros, a sua própria destruição advinda de tantos horrores praticados por ele mesmo. Viu-se obrigado a procurar mecanismos de defesa para seu melhor bem viver. Foi então que percebeu nas plantas, sua aliada amorosa e eficaz. Havia as que davam suas próprias vidas em troca da felicidade do homem.
Confesso que acatei essas explanações vegetativas com o olhar de quem respeita a cultura de cada um, e que a coincidência existente entre os povos, fazia parte dos intercâmbios.
Deixei de questionar até que uma matéria jornalística sobre “olho gordo” apareceu como chamada principal na mídia televisiva italiana. Alertavam que o chamado “olho gordo” pelos leigos tinha uma explicação científica. O organismo humano, frente a algo material e/ou imaterial pertencente e/ou inerente a uma outra pessoa, produzia uma proteína de defesa em concentração variável, fazendo com que o alvo de seu desejo sofresse desequilíbrio e “mal-estar” psicológicos. Mas que, o “mal” desejado a outrem era duplicado no “invejoso”, fazendo com que ele sentisse muito mais as conseqüências nocivas desta proteína.
Fico a imaginar quão valiosa é a sabedoria popular que atravessa tempo e espaço, seguindo altiva do seu saber “prestar atenção”.
Os métodos científicos para se chegar a contundentes conclusões devem ser respeitados e assimilados, afinal a checagem de todas as variantes existentes no objeto de estudo chega a exaustão para que se comprove sua autenticidade temporal.
Já os métodos sócio-culturais não são precisos, mas acredito em suas relevâncias que ultrapassam fronteiras há milhares de anos.
De qualquer modo, sabemos que o desequilíbrio ambiental nos afeta diretamente. Científico ou não, nossos corpos são termômetros e provas vivas do que estamos a sentir, seja de bom ou ruim.
Não posso citar aqui a fonte da matéria acima citada por não ter subsídios para tanto, mas posso garantir que, a partir dela, comecei a prestar um pouco mais de atenção no que diz a sabedoria popular.
Deixo um convite aos meus amigos leitores: independente da crença sobre os benefícios intrínsicos das plantas, que tal deliciar-nos com suas outras características enquanto há tempo?
Nicete Campos
29/11/2005
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