Vez em quando a angústia invade, não pede passagem, se instala. Descarada se disfarça em nomes técnicos só pra embolar, confundir e atraiçoar. O pior disfarce leva o nome de impotência e suas variantes vão desde a ausência da força física até a mais terrível e incompreendida mente humana.
Não se dá ao luxo de ser como tantas outras coisas nas vidas das pessoas, não vive de modismos já que relatos nada saudáveis constam de literaturas antigas. Não dá trégua, incessante, incansável, horrenda nas formas vis de comprometer tudo e o todo.
Não escolhe tempo, hora, lugar. Ao menos a quem atacar. Alguns estudiosos tentam driblá-la com argumentos precários e insatisfatórios, sem sucesso contundente. Outros acreditam que o tempo se encarrega de exterminá-la, bani-la do meio pelo método do exorcismo. Ela se aquieta e se esconde no recôndito da imaginação. Tudo temporário, pois quando volta sua rasteira é ainda maior.
Insensata destrói mentes sãs, alija até soterrar restos do nada.
Há quem acredite nas voltas que o mundo dá, esquecendo-se do tempo que urge. Anestesiado permanece por pouco tempo. Pensa que pode hibernar e despertar sem chamar sua atenção. Sorte que a ilusão, também chamada de esperança, dá o ar da graça, mas medrosa some às primeiras investidas dela.
A vida, meu caro, não é fácil de ser vivida, e por isso, tantos desistem de viver.
Covardia ou desencanto? Não importa! O que conta mesmo, é que cada um sabe melhor de si do que qualquer outra pessoa mais municiada.
O pão aumentou seu preço, diminuiu seu sabor e tamanho, o que era verdadeiro e cativou, mostrou sua face feroz e mesquinha, o plantado não foi o colhido, estenderam a mão e você voou no vazio, fizeram promessas e não cumpriram, te colocaram num trapézio sem rede de proteção, deram o outro lado da face pra bater, enquanto te rasgavam as duas, o amor fingiu e traiu, você trabalhou e não ganhou, mendigou por falta de trabalho, se doou e perdeu sua identidade, humilharam-no matando seus sonhos, acreditou em suas próprias leis e foi aprisionado por elas.
Agora olha em volta, pasmo, bestificado e por fim, aliena-se desestruturado!
Ah! Angústia potente...Miséria de vida que nada se pode fazer.
Saio de cena, convicta da aniquilação dos valores supostos nobres. Nada a fazer, nada a temer. Apenas cambalear por esgueiras escuras, escondendo corpo mutilado, mente entorpecida do nada, do vazio que a insana encarregou-se de nutrir.
Nicete Campos
23/3/2005