Uma sensação de vazio para muitos, um alívio para alguns, esperança para poucos...
Assim como o carnaval, tantas outras datas são aguardadas com olhos esbugalhados de quem espera por alguma coisa que bem pode ser vinda do céu. É a esperança que nunca morre, é o instinto de sobrevivência que insiste em ser o primeiro, senão o único remédio manipulador de vidas.
Lembro-me de alguns trechos de uma certa música do Chico Buarque, aquela que exemplifica bem a vida que o ser humano vem vivenciando desde os mais remotos tempos...esperando, esperando, esperando o trem, esperando o aumento para o mês que vem, esperando a vida, esperando a morte, esperando a sorte que espera também...
É qualquer coisa assim... que espera todo e qualquer acontecimento, como se não esperar nada, possa significar não existir. Esperar é movimento, não esperar é inércia.
Somos complexos, e por isso mesmo, não conseguimos nos compreender na maioria de nossas ações. Será que é por isso que tentamos viver a vida dos outros? Se não, porque insistimos tanto em esquadrinhar e enquadrar pessoas e coisas em padrões que acreditamos serem os mais justos, acertados e óbvios?
Mais um carnaval se passou..., e o que mudou, o que se transformou? Como enfrentar a rotina da sobrevivência, se a ilusão que alimenta a alma se foi?
O ser humano se vira, dribla a lida da vida no cotidiano de pequenas ilusões que se mescla com o inóspito sobreviver. A realidade não pede passagem, invade e não tem querer!
O filho não chegou? Brigou com o namorado? A vizinha fusquinhou? Então ainda há vida e cheiro de festa no ar.
Vamos comemorar enquanto outro carnaval não vem?
Nicete Campos
25/2/2004