Nossos governantes, só para variar, poderiam nos poupar vez em quando. Ficar fazendo “desaforos” constantemente, sem dar tréguas, no mínimo é apostar que somos idiotizados o suficiente, para não percebermos as suas pretensões.
O desastre da incoerência administrativa pode ser sentido e/ou notado nas diversas áreas que compõem a nossa sociedade, fazendo com que a impotência invada, deixando um quê de abandono e levando o ser à inércia.
Pior mesmo, é quando esse desastre entra e se instala sorrateiramente, sem aviso prévio. Vejamos essa, que foi veiculada e que afeta diretamente às universidades públicas.
Abaixo, transcrevo na íntegra, a matéria feita por André Muggiati da Agência de Notícias da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
CNPq OFERECE BOLSAS PARA PESQUISADORES ARGENTINOS - 04/07/2003 17:25
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) está oferecendo 50 bolsas para pesquisadores argentinos interessados em fazer o pós-doutorado no Brasil. O programa já está em fase final de negociação.
De acordo com o presidente do CNPq, Erney Camargo, os interessados em se candidatar devem entrar em contato direto com pesquisadores do órgão para acertar os detalhes da pesquisa e de sua participação. A seguir, podem se candidatar para as bolsas.
A idéia surgiu após o agravamento da crise econômica na Argentina nos dois últimos anos, a qual provocou uma evasão de pesquisadores com doutorado para o exterior. “Houve um pleito do governo argentino junto ao governo brasileiro para a criação desse programa, em que os argentinos vêm ao Brasil com a garantia de que depois retornarão”, diz Camargo.
Segundo ele, há vantagens também para o Brasil. “O programa é favorável para nós, uma vez que possibilita aproveitar a excelência reconhecida dos pesquisadores argentinos, de ótima qualidade, nas pesquisas brasileiras. É um convênio bom porque ambas as partes ganham.”
Juro que não entendi! Essa matéria está incompleta? É um equívoco? Se não, esclareçamos alguns pontos:
1. Todos os acadêmicos brasileiros que se dedicam à pesquisa e extensão, são bolsistas?
2. Nossos pesquisadores são devidamente prestigiados pelos governantes?
3. A grande maioria dos pesquisadores brasileiros, não vai para o exterior com verba do contribuinte brasileiro?
4. O “aprendizado” do pesquisador brasileiro é tão moroso, para que o Brasil se sinta na obrigação de importar “gênios” para dar uma “mãozinha”, ou pagar para ir aprender fora do país?
5. O intercâmbio existente entre os países deve ser estimulado. Só assim se cresce, se culturaliza, se aprende e se equipara, mas as despesas ficam apenas para uns parcos pagarem?
6. Segundo a frase do presidente do CNPq, Erney Camargo “os argentinos vêm ao Brasil com a garantia de que depois retornarão”, quis dizer com isso que empregamos verba em pesquisadores estrangeiros para que terminem seus pós-doutorados, e depois eles retornam ao país de origem deixando-nos órfãos?
Oras! Que incoerência é essa? Nossos pesquisadores estão mais que aptos para um feedback com qualquer outro pesquisador, seja ele quem e de onde for. Mesmo sem o auxílio necessário de equipamentos de ponta, já deram várias mostras de competência, e isso sim é ser competente. Por que ao invés de ficar fazendo gentileza com chapéus alheios, o governo brasileiro não equipa melhor nossas universidades, melhora os salários dos pesquisadores e bolsas dos alunos, e principalmente, não apóia total e integral os cérebros privilegiados aqui existentes?
Nicete Campos
10/7/2003